O PENSAMENTO POLÍTICO DE PLATÃO

Durante sua juventude, como foi comum entre os jovens atenienses abastados de sua geração, Platão cultivou a ideia de preparar-se para a vida política e ocupar cargos importantes no governo da cidade. A condenação de Sócrates, seu grande mestre e referencial, foi um fato marcante na sua vida e levou-o a uma profunda reflexão e a uma nova atitude com relação à política. Decepcionado com a democracia ateniense, concluiu que “somente à luz da verdadeira filosofia se pode reconhecer onde está a justiça na vida pública e na vida privada.” Para ele, somente reis- filósofos, eternos amantes da verdade, teriam condições de atingir o mais alto conhecimento do mundo das idéias, que “consiste na ideia do bem”.

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Já na sua maturidade, Platão expôs na República a sua concepção de governo numa sociedade idealizada por ele e que toma a cidade-estado de Esparta como modelo. Nela, existem três classes sociais: os governantes, os guerreiros e o povo. Este último segmento, formado por escravos, agricultores, artesões, médicos, arquitetos, comerciantes e outras profissões, produz toda a riqueza e o sustento da sociedade, mas está excluído da participação política. Aos guerreiros são negados quaisquer direitos relacionados com a vida privada. Sua educação, desde cedo, é conduzida pelo Estado de modo a prepará-los para garantir a segurança interna e externa da sociedade, sua única função.  Finalmente, a classe governante é constituída pelos filósofos, se ainda podemos chamá-los assim, recrutados entre os militares com mais de cinquenta anos. São eles, os detentores da verdade, que devem governar de maneira autoritária e ditar as leis que todos devem seguir, além de fiscalizar a vida de cada membro da sociedade.

Comparando a sociedade a um corpo, o filósofo afirma que as pernas servem para sustentá-lo (os trabalhadores), os braços para defendê-lo (os guerreiros) e o cérebro (os filósofos) para dirigi-lo. Platão localiza, ainda, na psique humana três seções correspondentes a divisão do Estado: a razão, a vontade e as paixões. Enquanto à razão, cabe formular as leis que devem reger os homens, cabe à vontade garantir que elas sejam executadas. As paixões, por sua vez devem simplesmente cumprir o que lhes foi determinado, ou seja, as paixões devem ser controladas pela razão. No mito da caverna, significativamente, a massa ignorante mata aquele que, saindo da escuridão e enxergando o mundo com a clareza que a luz lhe permitiu, tentou advertir os outros a respeito de sua ilusão. Por fim, é interessante lembrar que, nessa política e nessa psicologia platônicas, os artistas e deficientes, por exemplo, certamente estariam excluídos de sua sociedade “ideal”.